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COMO AJUDAR ALGUÉM QUE ESTÁ DE LUTO?




A experiência do luto talvez seja o maior trauma que uma pessoa possa enfrentar. A dor de perder um ente querido arrebenta a gente por dentro, vai rasgando a alma e dilacerando cada pedaço do coração.


E como é triste ver alguém sofrendo a dor do luto, seja no velório ou ao longo dos meses que seguem após o sepultamento. A vontade é de arrancar aquela dor com as próprias mãos. E, na boa intenção de ajudar, muitas vezes acabamos sendo inconvenientes e piorando ainda mais a situação.


Antes de tudo, é preciso compreender o luto. Gosto muito de um estudo feito pelo Pr. Ebenézer Bittencourt, do Instituto Haggai, disponível no YouTube (Lidando com o luto: vivendo cada fase da ausência). Neste estudo, ele explica com maestria as quatro fases do luto:


  1. Fase do choque (primeiros 15 dias): desejo de não se mover, dificuldade em tomar decisões, emoções opostas.

  2. Fase da procura (cerca de 4 meses): alta sensibilidade, sentimentos de raiva e culpa.

  3. Fase da desorganização (até 12 meses): dificuldade com as rotinas, senso de menor valor, perda ou aumento de peso, pode buscar conforto nos vícios.

  4. Fase da reorganização (até 24 meses): atende aos desafios e oportunidades, aumento das energias, aquisição de bons hábitos, lembra do passado com carinho e saudade mas sem obsessão ou dependência.

Claro que o tempo de cada uma dessas fases varia conforme a personalidade e a vida de cada pessoa, e também depende do tipo de relacionamento com o(a) falecido(a). Mas, de modo geral, a pessoa enlutada segue este percurso, como um caminho no meio de um vale escuro até que consiga sair deste vale e seguir num novo lugar.


Além de fazer orações para que o consolo do Céu alcance o coração da pessoa enlutada, é possível ajudá-la basicamente com três atitudes práticas.


1. EMPATIA


Empatia é se identificar com a dor do outro. Este é o ponto de partida de qualquer atitude. Reconhecer que a pessoa está sofrendo e sofrer junto com ela. É isso o que a Bíblia ensina quando diz: “chorem com os que choram” (Rm 12:15).


Então, não tente dar uma explicação para o ocorrido dizendo que Deus quis assim, que foi o destino ou que foi o melhor. Isso não ameniza a dor nem traz a resposta que a pessoa realmente precisa.


As famosas frases de “encorajamento” do tipo: “Você precisa ser forte!”, “Você precisa reagir!”, “Não fique triste, pois o(a) falecido(a) não gostaria de te ver assim!”, etc., também demonstram uma profunda insensibilidade a tudo o que aconteceu.


Em vez disso - SE TIVER QUE DIZER ALGUMA COISA - diga: “Sinto muito pela sua perda.”, “Lamento tudo isso ter acontecido.”... frases sinceras que expressem real empatia pelo sentimento do outro.


2. RESPEITO


O luto PRECISA ser vivido, a dor PRECISA ser sentida, o choro PRECISA ser chorado... É um lugar, um vale, um deserto, pelo qual a pessoa PRECISA passar. Então, sentir empatia e respeitar este momento é o mínimo que podemos fazer.


Sei que é grande a vontade de ver a pessoa novamente bem, feliz, reconstruindo a vida, mas isso não vai acontecer antes que etapas importantes do luto sejam vividas. Não há muito o que fazer além de ter paciência e respeito.


Alguns se sentem melhor ficando longe de tudo que lembre a pessoa que faleceu, enquanto outros se agarram aos objetos do(a) falecido(a) com todas as forças. Uns se calam e se “encolhem” feito caramujo, outros explodem em choro e respostas ríspidas. São maneiras diferentes que cada um encontra para lidar com os sentimentos gerados pelo luto. Entender isso e respeitar as escolhas de cada um, sem fazer comparações, é fundamental para que cada etapa seja vivida e vencida da melhor maneira possível.


Mudar, ou não, as fotos dos porta-retratos, arrumar as gavetas, se desfazer de roupas e objetos, ou até mesmo falar sobre o momento da perda e os próprios sentimentos, são escolhas delicadas que geram muito sofrimento e que só devem ser tomadas quando a própria pessoa se sentir pronta para isso.


3. PRESENÇA


É verdade que cada pessoa reage de uma maneira e como é importante a gente saber disso. Há que se respeitar o silêncio e os momentos de ficar a sós, eles são necessários. Mas separar momentos para estar junto e se fazer presente na vida do enlutado, com equilíbrio e sem ser invasivo, é fundamental.


Abraçar, segurar a mão, chorar junto, ficar em silêncio junto, emprestar o ombro e escutar sem julgar são exemplos de atitudes que não só demonstram empatia e respeito, mas dão aquele "quentinho no coração".


A dor do luto paralisa e é normal que isso aconteça e quanto mais próxima da pessoa que morreu, mais a vida de quem ficou se desconstrói. Por isso, tarefas simples como pagar a conta de luz, fazer compras ou lavar a louça saem da rotina e parecem extremamente extenuantes. Daí entra a presença que faz a diferença.


Não estou me referindo ao tal “se precisar de alguma coisa, me avisa”, mas sim ao “estou aqui, em quê posso ajudar?”. Cooperar nos afazeres do dia a dia como ficar com as crianças, ir ao banco ou fazer uma comidinha gostosa pode ser algo de inestimável ajuda.


A morte de alguém da família gera inúmeras questões com que é preciso lidar: serviços burocráticos, inventário, contas, pendências, decisões importantes. Então, ter alguém que ajude nas tarefas práticas é sempre muito bom.


Se, e quando, houver oportunidade, converse sobre assuntos leves e aleatórios, leve a pessoa para um passeio ou uma atividade diferente, assista um filme ou leia um livro junto com ela, façam ginástica juntos, enfim, qualquer coisa que a ajude a sair um pouco daquele lugar de lamento. Pequenos passos, sem nunca pressionar ou invadir, a fim de ajudá-la a suportar o sofrimento da ausência.


Lembre-se que o propósito não é fazer a pessoa “esquecer” ou não pensar no luto, afinal, a dor faz parte de quem ela é no momento. Nossa companhia é apenas para fazê-la se sentir viva e amada e a ter momentos de “respiro” durante a travessia do vale.


4. INTERVENÇÃO


Mostrar empatia, respeitar a dor e se fazer presente na vida de alguém, durante seu processo de luto, são atitudes básicas e importantes que podemos ter para fazer a diferença de maneira prática e verdadeira na vida dessa pessoa. Mas há situações em que pode ser preciso intervir de maneira mais contundente.


Médicos e especialistas dizem que a intervenção é necessária em dois casos:

- Quando a saúde ou a vida da pessoa está em risco.

- Quando o luto persistir por mais de 2 anos.


Nestes casos, é preciso agir, com delicadeza e empatia, sugerindo tratamento e acompanhamento médico. Caso a pessoa insista em não aceitar ajuda, em casos graves de risco iminente, se faz necessário buscar meios para que isso aconteça.


Mas estes casos são raros. Na grande maioria dos casos, o luto segue seu próprio fluxo e, com o passar dos meses, em até dois anos, a pessoa consegue restaurar seu estado emocional.


CONCLUSÃO


A morte faz parte das nossas vidas, mas não fomos criados para isto, por isso é tão difícil aceitá-la. Deus nos fez à sua imagem e semelhança e nos programou para vivermos eternamente. Mas no momento em que nos separamos Dele através do pecado, a morte passou a fazer parte da nossa existência.


No entanto há Um que é maior que a Morte e que, um dia há de derrotá-la definitivamente. Em Cristo, o Autor da Vida, podemos encontrar conforto, direção e força.


Quero encerrar este texto com um soneto de John Donne que eu AMO. Acho que não terei uma lápide quando morrer (nem vejo necessidade, rs), mas se eu tivesse, é o que gostaria que estivesse escrito nela:


Morte, não te enalteças. Quem chamar-te forte e terrível, erra, pois não és. E quem pensas matar, Morte, ao invés, não morre, nem matar-me é tua arte. Serva da aflição, reis, destino e sorte, tu moras no veneno, guerra e doença; Porém se ervas nos dão a sonolência, Então por que intumesces tanto, ó Morte? Na vida eterna acorda ele que jaz: E a Morte já não é. Morte, tu morrerás.

Escreva nos comentários o que você achou deste artigo, compartilhe com a gente sua experiência e se, achou que há algo a acrescentar, escreva também a fim de enriquecer o assunto.



Autora:
Márcia Rezende
Pastora, educadora e gestora administrativa na 3ª Igreja Batista de Marília.
Já passou por vários lutos após a perda de familiares e amigos.

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