top of page

O cristão e a Bebida

Beber socialmente, para relaxar, sem se embriagar... Seja entre o casal, nas reuniões de família ou entre amigos, vem crescendo o número de adeptos ao consumo de bebida alcoólica. Seria este um costume que agrada e glorifica a Deus?



Drogas e álcool estão presentes na humanidade desde sempre. Bebidas feitas com cevada ou frutas fermentadas faziam parte da sociedade no mundo antigo. Por isso o assunto é tantas vezes citado na Bíblia.


Veja alguns exemplos:


O sábio mostra que há um perigo no vinho e que ele é enganador. Ouve filho meu, e sê sábio; guia retamente no caminho o teu coração. Não estejas entre os bebedores de vinho nem entre os comilões de carne. Porque o beberrão e o comilão caem em pobreza; e a sonolência vestirá de trapos o homem” (Pv 23:19-21).


“Para quem são os ais? Para quem, os pesares? Para quem, as rixas? Para quem, as queixas? Para quem, as feridas sem causa? E para quem, os olhos vermelhos? Para os que se demoram em beber vinho, para os que andam buscando bebida misturada. Não olhes para o vinho, quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente.” (Pv 23:29-32).


“A prostituição, o vinho velho e o novo tiram o entendimento” (Os 4:11).


“Acautelai-vos por vós mesmos, para que não aconteça que os vossos corações se sobrecarreguem de glutonaria, de embriaguez, e dos cuidados da vida, e aquele dia vos pegue de surpresa, como uma armadilha.” (Lc 21:34)


“Ora, as obras da carne são conhecidas e são: prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dissensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e cousas semelhantes a estas, a respeito das quais eu vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não herdarão o reino de Deus os que tais cousas praticam” (Gl 5:19-21).


“Não vos embriagueis com o vinho” (Ef 5:18).


A Bíblia toda está repleta de textos que condenam a bebida em todos os sentidos. Leia também: Pv 31:1-7; Is 5:11, 22; Is 28:7-8; Hb 2:15; 1Co 6:9-10; 1Pe 4:3


A absorção do álcool pelo corpo, mesmo de forma moderada, causa várias as alterações fisiológicas, tais como:

  • desidratação

  • queda brusca da glicose no sangue

  • alterações no relógio biológico

  • alterações no sistema imunológico

  • diminuição da atividade cerebral

  • alterações na ação dos neurotransmissores

  • diminuição dos reflexos

  • alteração no metabolismo

  • queda de vitaminas

  • aumento da gordura no fígado

  • enfraquecimento do coração

  • desatenção

  • perda de memória

  • falta de equilíbrio

Além dos efeitos imediatos, é comum o consumo constante causar intoxicação severa, trazer lesões cerebrais permanentes, impedir o crescimento de novos neurônios em pessoas mais jovens, gerar inflamações nos órgãos internos, causar depressão e outros transtornos mentais e até paradas cardiorrespiratórias e danos neurológicos.


Como se não bastasse, a liberação de endorfinas no sistema nervoso central condiciona o cérebro a só se sentir bem quando está sob o efeito do álcool, causando o vício e a dependência.


Segundo a OMS*, o consumo de bebida alcóolica está relacionado a 69,5% dos índices de cirrose hepática, a 36,7% dos acidentes de trânsito, a 8,7% dos índices de câncer, 22% da violência interpessoal e 23% dos suicídios.

Como Deus poderia apoiar algo tão danoso ao ser humano?

Contrariando o bom senso, muitos se apegam a algumas passagens do Novo Testamento (mal interpretadas) para justificar o consumo moderado de bebida alcoólica. Vejamos:



O VINHO


A palavra “vinho” na Bíblia (e em outros escritos do mundo antigo) tem mais de um significado. Assim como a palavra “cabo” em português pode significar várias coisas dependendo do contexto da frase, a palavra “vinho” também pode ser empregada em vários sentidos.


Para nós, vinho é sempre algum tipo de bebida alcoólica feita com o suco da uva, mas seu original em grego (Oinos) e em hebraico (Yayin) pode ser utilizado para descrever o suco espremido da uva (sem álcool), o suco já fermentado (alcoólico) e ainda a bebida comumente utilizada pelos judeus durante as refeições (suco fermentado diluído em quatro ou mais partes de água).


Portanto, sempre que lemos o termo “vinho” na Bíblia, é possível que seja uma alusão ao suco puro da uva, também chamado de mosto ou vinho novo. Precisamos estudar cada contexto para descobrir seu real significado.


A seguir, os 4 textos mais utilizados para justificar o consumo moderado de bebida alcoólica:



AS BODAS DE CANÁ (João 2:1-11)


O primeiro milagre de Jesus se deu numa festa de casamento onde ele estava presente e, ao ser avisado que o vinho acabara, transformou em “vinho” 6 talhas de água (vasilhas de pedra com a capacidade média de 80 a 120 litros).


Considerando que os convidados já haviam bebido fartamente quando Jesus transformou cerca de 600 litros de água em “vinho” e mandou servir aos presentes, não é difícil deduzir que, neste caso, a palavra “oinos” signifique suco de uva não fermentado, pois, de outra forma, Jesus estaria incentivando a embriaguez e, com isso, contrariando abertamente as Escrituras, o que sabemos ser algo inconcebível.


Aqui, "melhor vinho" seria o suco mais puro extraído das melhoras uvas.



A CELEBRAÇÃO DA CEIA (Mateus 26:26-30)


Em nenhum dos relatos bíblicos sobre a instituição da Ceia, encontramos o termo “oinos” (vinho/suco da uva), mas apenas as palavras “poterion” – traduzida por cálice – que indica qualquer objeto usado para tomar líquidos, seja copos de argila ou cálices de metal); e também a expressão fruto da vide, ou seja, produto extraído da videira.


O vinho fermentado é um segundo estágio da bebida, portanto, não pode ser considerado fruto da vide, mas um subproduto da mesma, portanto, a bebida servida na Ceia, sem dúvida, era o suco puro da uva.


Além disso, na semana da Páscoa, quando a Ceia foi instituída, era estritamente proibido aos judeus consumir, e até ter em casa, qualquer tipo de alimento fermentado (Êx 13:7). Se todo fermento (símbolo do pecado Mt 16:6; Lc 12:1; 1Co 5:6-8), precisava ser exterminado das casas na semana da Páscoa, seria uma terrível transgressão se as famílias judaicas mantivessem ou ingerissem o vinho alcoólico nessa época.


Também é importante esclarecer que, em 1 Co 11:21-22, quando o apóstolo Paulo dá instruções à Igreja de Corinto sobre a celebração da Ceia e lhes exorta acerca das diferenças entre eles dizendo “…enquanto um tem fome, outro se embriaga”, não está falando de embriaguez no sentido que usamos hoje. O termo “embriagado” advém do latim “ebrius”, que além de contaminado, intoxicado ou bêbado, significa também saturado (cheio em demasia, não necessariamente de álcool). Assim, no sentido original da palavra, alguém pode se “embriagar” de refrigerante ou de suco de uva, numa referência ao consumo da bebida em quantidades exageradas.



JESUS BEBERRÃO (Mateus 11:18-19)

Neste texto Jesus fala do seu ministério e o de João Batista, mostrando que alguns sempre encontram motivos para rejeitar o Evangelho: “Veio João, não comendo nem bebendo, e dizem: Tem demônio. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem: Eis aí um homem comilão e beberrão, amigo dos publicanos e pecadores.”


João Batista era nazireu (Lc 1:15) e, como tal, desde nascença se absteve não só de toda bebida alcoólica, mas também do suco da uva e até da própria uva, conforme predizia o voto do nazireado (Nm 6:3).


Diferentemente de João, Jesus tomava “vinho” como deixa claro o texto acima, entretanto, não necessariamente se trate de vinho alcoólico, mas sim de suco de uva. Como podemos chegar a essa conclusão? Pela Lei, nem os reis nem os sacerdotes podiam beber vinho ou qualquer outra bebida forte (Pv 31:4-5, Lv 10:9). E Jesus, que em sua vida exerceu a função de sacerdote e rei (Hb 9:11; Lc 19:38), nunca desobedeceu à Lei (Mt 5:17; Hb 4:15), portanto, também não poderia ter bebido vinho alcoólico. Simples assim!



PAULO E TIMÓTEO (1 Timóteo 5:23)


Numa de suas cartas a Timóteo, líder da Igreja em Éfeso, Paulo diz a ele para não beber mais apenas água, mas também um pouco de vinho.


Acontece que naquela época não existiam filtros e o método utilizado para a purificação da água era dissolver nela um pouco de vinho (principalmente o suco ácido fermentado sem álcool, como o vinagre). Era comum servir esta bebida chamada de vinho nas refeições, inclusive para as crianças.


Paulo está assim, instruindo Timóteo a não tomar mais a água pura (como provavelmente ele fazia por ser abstêmio), mas sim misturá-la com um pouco de vinho, por causa de sua saúde. Assim como hoje vários medicamentos possuem um pequeno teor alcoólico e não há problemas em ingeri-los, desde que com zelo e cautela.


Timóteo era líder espiritual e era de suma importância que esses líderes não fossem “chegados” ao vinho e que se mantivessem sóbrios (1 Tm 3:1-3; 2Tm 4:5; Tt 1:7)


Muitos falam hoje os benefícios que um cálice de vinho diário pode trazer à saúde, mas pesquisas mostraram que o suco puro da fruta oferece esses mesmos benefícios, ainda mais efetivos e sem o comprometimento tóxico do fígado trazido pelo álcool.


O que os cientistas estão descobrindo, e o apóstolo Paulo já sabia, é que o suco da uva auxilia na coagulação sanguínea, aumenta o nível de antioxidantes, diminui a produção de radicais livres, baixa o colesterol, e reduz sensivelmente a arteriosclerose e a incidência de câncer no estômago.



CONCLUSÃO


A Bíblia nos adverte insistentemente para que sejamos sóbrios e permaneçamos alertas contra as ciladas do diabo (1Ts 5:6; 2Tm 4:5; 1Pe 4:7; 5:8). Sabemos que o álcool, mesmo em pequenas doses como um copo de cerveja ou uma taça de vinho, altera imediatamente o estado mental de quem o ingere, provocando a perda de inibições, prejudicando as percepções, retardando os reflexos, comprometendo o autocontrole e contribuindo para a falta de juízo. A ingestão de bebida alcoólica fragiliza nossa mente e nos tira da posição de soldados em vigília.


Quando a Palavra diz: “não vos embriagueis com o vinho…” (Ef 5:18), a ênfase está na importância de nos encher do Espírito e não na afirmação subentendida de que “tomar só um pouco de vinho não tem problema”.


Além disso, devemos também analisar sempre o reflexo de nossas atitudes sobre o nosso próximo. Lemos em Romanos 14:21: “Bom é não comer carne nem beber vinho, nem fazer qualquer outra coisa em que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou se enfraqueça”. E o verso 13 adverte: “…não faça nada que leve seu irmão a ser mais fraco ou a cair no pecado.”


Isso significa que, mesmo estando convencidos de que não há problema em beber só um pouco de vinho e tendo o autocontrole absoluto sobre a bebida, o simples fato de “bebermos socialmente” pode ser o incentivo que faltava para aquele que já tem uma certa fraqueza ou propensão para o álcool enveredar de vez no vício da embriaguez.


A Bíblia nos chama de reis e sacerdotes do Senhor (1Pe 2:9; Ap 1:6), então que possamos escolher nos manter sóbrios e passarmos longe de qualquer tipo de bebida alcoólica. Deus nos ama, e seus mandamentos para as nossas vidas não tem o propósito de serem punitivos ou restritivos, mas de contribuir para que vivamos uma vida abundante e saudável. Se Deus diz em sua Palavra que é melhor não beber, acredite, pois Ele sabe o que faz.



“O vinho é escarnecedor, e a bebida forte, alvoraçadora; todo aquele que por eles é vencido não é sábio” (Provérbios 20:1)



Material complementar:


Vídeos explicativos do arqueólogo e historiador Dr. Rodrigo Silva sobre o assunto (Parte 1 e Parte 2)




_________________


Márcia Rezende

Bacharel em Teologia e em Educação Religiosa, Doctor of Ministry – Especialização em Bíblia e Ciências da Religião

1.085 visualizações1 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page